quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Queima devia ser quando o Homem quisesse



Sócios, estou aqui concentradíssimo! Por amor de Deus… Agora não! Bem, já devem ter reparado que não falta muito para o início das Queimas das Fitas por esse país fora e apesar da crise económica eu acredito que as respectivas organizações consigam trazer as melhores bandas da actualidade em charters de 400 ou 500 pessoas. Fantástico, fantástico! Há qualquer coisa acerca da Queima das Fitas que me deixa extremamente triste, que é o facto de que a próxima é só desse exacto momento a um ano. Mandasse eu nisto e por mim havia Queima das Fitas de 3 em 3 meses. A Queima é um bocado como o Natal. Pelo menos para mim. Quando acaba, sinto-me angustiado até aos ossos, mesmo que me digam que o Natal é quando o Homem quer. E eu sei muito bem que não o é. Tirando isso, tudo o que diz respeito à Queima das Fitas me deixa feliz. A Queima das Fitas lembra-me a peregrinação a Fátima: sabemos que falta muito para lá chegar, que muito provavelmente precisaremos da assistência do INEM (em ambos os casos), que dormiremos pouco e que chegaremos ao fim exaustos, mas quem corre por gosto não cansa. E é a única altura do ano em que toda a gente se une por uma causa comum, seja ela qual for, e na qual eu não me importo de ouvir o Kalú dos Xutos gritar pelo FC Porto e ofender o Benfica. Não ir pelo menos uma noite a uma qualquer Queima das Fitas, seja ela onde for, é como não estar presente no casamento da melhor amiga, é não conseguir fechar aquele negócio empresarial de milhões, é deixar mal o amigo na paragem do autocarro, é falhar aquele penalty decisivo aos 90 minutos e é tão imperdoável quanto tudo isso. Digam o que disserem os meus e os vossos pais, a Queima das Fitas é boa para o país porque, pelo menos nessa semana, não nos preocupamos com a crise económica ou com as medidas de austeridade, não queremos saber de greve nenhuma dos maquinistas ou dos taxistas, não nos interessa se há jogo grande da liga espanhola e muito menos nos interessa aquela conta que temos de pagar para a semana que vem. A verdade é esta: a Queima das Fitas é tão indispensável para nós e para o país como a rede dos telemóveis que teima em ser sempre baixa quando queremos avisar o pessoal de que entrámos no recinto. E lembrem-se: sempre que passar uma reportagem na televisão sobre a Queima não se esqueçam de abandonar rapidamente o local porque se forem reconhecidos o mais certo é levarem uma tareia dos vossos pais. Até à próxima.


Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

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