sábado, 15 de outubro de 2011

Dignidade ferida



Segundo o jornal “Correio da Manhã”, em caso de vitória frente à Bósnia e consequente apuramento para o Euro 2012, cada jogador irá receber 112 mil euros.


E estes garbosos mancebos, tantas vezes sem pão para comerem, bem merecem. De facto, isto só prova que o País está de boa saúde, prenhe de abundância e riquezas mil. Afinal, hoje como ontem, os dirigentes nacionais, sobretudo os que tutelam esta área, ainda comungam da expressão que habitualmente uso para melhor caracterizar o assunto: 'sempre que Portugal marca um golo, o mundo pula e avança'. Vergonha, é o que sinto. Tanta austeridade, tanto sacrifício, tanta miséria e continuam a querer fazer de nós mentecaptos, cidadãos sem direito a uma vida minimamente decente. Austera, mais esta medida. Veneremos pois os jogadores de futebol, idolatremos o que nada vale para a saída de uma crise que jamais acabará, especialmente com exemplos destes. E há muitos mais que, infelizmente, desconhecemos.
Juro solenemente que, com estas condições de desrespeito para com a população que trabalha e que tanto tem apoiado estes bafejados pela sorte, jamais ficarei hipnotizado com os vossos belíssimos toques de bola. Assim sendo, só espero que, em nome da Pátria agonizante que é a nossa, e com este fenómeno de dinheiro fácil ofertado a quem o não merece, resta-me a única alternativa possível e digna; percam doravante os jogos todos que vierem a disputar mais aqueles que nunca disputarão. Dirigentes e demais gente sem princípios e sem fins que gira em torno deste futebol assim visto; não quereis compreender que os outros homens e mulheres são seres que sofrem muito para dar de comer aos filhos? Para os vestir? Para os educar? Para vos sustentar. É gente que até sofre tão-só com a electricidade do ar e das nuvens. Neste quadro, meus senhores, convirá acrescentar que vós ignorais completamente que os vossos músculos estão muito lassos e a vossa cabeça demasiado obscura para que acheis a pedra destes degraus tão dura quanto ela é para nós. Mudem de vida e não defendam permanentemente mentiras, conjecturas e sentimentos diferentes dos nossos. Dos que vos sustentam.

Mário Rui

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