sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

(Des)Acordo ortográfico



O Miguel Sousa Tavares disse que o novo acordo ortográfico é um acto colonial do Brasil sobre Portugal e eu tenho de concordar com ele.

Quando era criança, uma palavra mal escrita, a falta de um acento, de um h, de um c com ou sem cedilha, ou de um nome próprio escrito com letra minúscula custava-me ditados, repreensões e trabalhos de casa.

Hoje, qualquer português que assuma a nova ortografia não só está a trair a sua língua, como está também a sujeitar-se aos ditames de uma regra imposta à bruta e sem qualquer fundamento democrático.

O novo acordo ortográfico viola a moralidade, a dignidade e a identidade de um povo e o respeito pelos que nos precederam. Mais, se um acordo exige reciprocidade e se, neste caso, isso é algo que não se verifica, porque é que nos havemos de sujeitar a ele?

Não se pode considerar “acordo” a uma norma imoral que, desrespeitosamente, não considerou ou consultou os profissionais que trabalham com a língua, como escritores, jornalistas e professores, situação agravada pelo facto de não ter sequer consultado a vontade e a opinião da população portuguesa em geral.

O novo acordo é também ele inconstitucional. A actual Constituição da República Portuguesa, aprovada em 1976, está escrita em português anterior a 1990, logo, uma actualização ortográfica não pode ser feita sem que haja uma revisão constitucional segundo as normas do acordo ortográfico.

Para terminar, quer se trate ou não verdadeiramente de um acto dissimulado de colonialismo do Brasil, é bom que os iluminados que agora inventaram este novo acordo compreendam que a lusofonia vai sempre afirmar-se mais pelas relações humanas do que pela escrita que nos querem estupidamente impor.

E para aqueles que a ele se submetem – como se já não bastasse a falta de orgulho de ser português que se apodera de nós todos os dias e o facto de nos deixarmos sempre subjugar pelos interesses dos grandes – eu deixo apenas este recado: o português de Portugal é a língua mãe de uma outra língua que se chama português do Brasil. Perceberam a dica?

Rui André

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