terça-feira, 21 de agosto de 2012

Entrevistas

Recentemente o presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins, foi entrevistado na Antena 1 pela jornalista Maria Flor Pedroso. Sendo quem é, a entrevista não poderia tratar outro tema que não o da situação das contas públicas portuguesas, da corrupção galopante que se instalou no país e afins. Pelo menos essa foi a tentativa, gorada, da jornalista que bem se esforçou por saber qual o papel do T.C. e do seu presidente no que a tais assuntos diz respeito.

Evidentemente que ao comum dos ouvintes muito teria agradado ouvir da boca deste senhor algumas verdades sobre o combate a este flagelo, medidas para o ultrapassar e resultados entretanto obtidos.

Refugiado em verboso discurso, tudo menos esclarecedor, o presidente do TC lá foi dizendo que o país anda a diabolizar (coitadinha da corrupção) esta matéria e que, afinal, nem tudo está tão mal quanto parece. Corruptos e corruptores quase não os há, derrapagens orçamentais são sempre fruto de uma ou outra pequena distracção, parcerias público-privadas são uma bênção para Portugal – tirando umas poucas que não correram bem uma vez que os gestores do Estado não previram isto e aquilo e aqueloutro – e assim aconteceu uma conversa vazia de conteúdo, balofa, quase a roçar a falta de respeito pelos ouvintes que se deram à canseira de ouvir tão douta verborreia de Oliveira Martins.

Interrogado de modo mais incisivo sobre matéria concreta, irrefutável quanto aos seus dúbios contornos, lá se escusava o presidente a falar dela, invocando a sua condição de intérprete sepulcral, prudente, politicamente correcto, da mesma. Ficámos todos mais esclarecidos. A corrupção, a agiotagem a prevalência do forte sob o fraco, é normal em democracia. Foi justamente o que eu, e se calhar outros, percebemos da intervenção deste senhor. Um homem inteligente e nós tão néscios…

Pelos vistos a corrupção sob o sistema democrático não é pior, nos casos individuais, do que a corrupção sob a autocracia. Há meramente mais, pela simples razão de que onde o governo é popular, mais gente tem oportunidade para agir corruptamente à custa do Estado. Ou seja a corrupção é proporcional à democracia.

Francamente, melhor teria sido que a excelente profissional Flor Pedroso tivesse queimado os minutos desta entrevista em mais proveitosa jornada. E que o presidente do T.C. a aproveitasse também para uma tertúlia académica. Nisso ele é exímio.

Mas se há uns que se escondem atrás de encantatórias palavras ditas, há outras que, felizmente, costumam chamar ‘os bois pelos nomes’ e, assim sem papas na língua, nos vão dando pistas seguras quanto ao que de pior algumas almas manifestam. É só ler aqui! Decididamente o país coxo-corrupto de que o presidente do T.C. não quer falar aos portugueses, presumo que para não ferir algumas sensibilidades mais argutas, já se tornou em amputado. É só entender o que diz uma mulher!

Mário Rui

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