terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O Grillo.




Daquilo que li, vi e ouvi sobre as eleições italianas, parece-me que não levaram este rapaz muito a sério. Presentearam-no com uns mimos, apelidaram-no de tonto e, contas feitas, o seu Movimento 5 Estrelas está a pôr muita gente fora do estrelato. Acabou por ser o partido mais votado na Câmara dos Deputados (“dos” porque por lá não há “de” nem “da”), com 25,5%, o que desde logo impediu a obtenção de qualquer maioria. De resto, o jornal Corriere della Sera já titulou que “sem Grillo será impossível governar”. É a prova provada que um qualquer grilo pode grilar muita gente. Mais que querer perceber quem é este novo líder, para além do humorista profissional, importa salientar a reviravolta que um qualquer desconhecido pode provocar na futura governação de um país. O discurso de Beppe Grillo, do partido anti-sistema M5S, que deterá 64 senadores, já traçou metas. Promete “mandar os políticos para casa”, pôr “a honestidade na moda” e mudar o país com uma “revolução cultural”. Não sei se tudo isto vai fazer, ou não, validade num país cujo número de senadores necessário para ter a maioria é de 158, resultado que nenhuma bancada conseguiu alcançar e que leva a Itália para um período de incertezas políticas. O que sei é que por cá, com perto de 40 anos de governos igualmente humoristas, para não dizer anedóticos na maior parte dos casos, alcançámos o Estado a que hoje estamos subjugados. Se para outra coisa não servir o resultado destas eleições em Itália, pelo menos que seja útil à reflexão colectiva, e a muita em particular, já que se trata de um lição. É que a realidade portuguesa não anda muito longe do que disse Grillo e, especialmente, está carecida de “mandar – alguns -  políticos para casa”, pôr “a honestidade na moda” e mudar o país com uma “revolução cultural”. Se assim não acontecer e de maneira democrática, então bem podemos assistir a breve trecho à chegada de um qualquer ‘tiririca’, ou de mais um estroina, ou pior que tudo isso, ao desembarque de um auto-intitulado líder das massas que governe monocracia cujo único propósito pode ir muito para além das  3 promessas de Grillo. Eu não gostaria de tal aparição, embora haja quem diga que às vezes há males que vêm por bem! Parece contradição? Talvez sim, talvez não.

Mário Rui

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