quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Os Mercados e os Mercadores



 















“Não tenho obrigação de resolver as dificuldades que criei. Que as minhas ideias sejam  sempre um tanto díspares, ou pareçam mesmo contradizer-se, se ao menos forem ideias que permitam aos leitores encontrar material que os leve a pensar por si próprios.”

 Gotthold Lessing
 

Ouço falar tanto em mercados que dou por mim a pensar no tempo antigo em que estas actividades comerciais tinham um começo e um fim.  Para além das transacções aí efectuadas, a vida de então não era mais comercial que o estritamente necessário. Hoje, há gente que nos quer fazer crer estar de tal modo privada de tempo, quais tarefas capitais de que julgam ocupar-se,  que até o próprio tempo assume um valor comercial. Tudo tem um preço. Qualquer que seja a actividade desenvolvida, mas em particular na política, o resumo da mesma assenta apenas numa relação comercial/contratual  e jamais se baseia no socialmente razoável ou na reciprocidade.  Trata-se de área de mercado que deveria servir de exemplo no que toca à densidade de trocas e baldrocas, que aumentam de modo exponencial, e sem que isso se traduza em serventia para os que, não se ocupando do trato da coisa pública, se vêm cada vez mais espoliados dos seus direitos. O resto, isto é, pensar de outro modo, é um erro puro!  Nada importante é oferecido aos demais portugueses; bem pelo contrário, são os portugueses que têm de fazer o seu próprio futuro, de construí-lo. Mesmo com os maus exemplos vindos de quem vêm. Portanto, ignorar que, se o proveito próprio à custa e sem respeito pelos outros é uma vil coisa que se faz, também nós podemos pensar que a justa distribuição de benefícios aos carenciados é uma coisa que há que fazer, que há que fabricar. Bem sei que assim não pensam os que escravizam a sociedade civil produtiva, não porque desconheçam tudo isto, que é absolutamente elementar, mas porque acham que tirando do muito que têm para dar aos semelhantes os deixa mais vulneráveis, menos resolvidos do que nunca. Pois bem, com lições de opulência da natureza da que nos entra todos os dias em casa, politiqueira, com remetente conhecido e não menos avisado destinatário, só posso acabar dizendo que o conceito de «político», perante o sistema instalado por algumas espécies que têm nidificado em vários troços, já se me esqueceu. Agora já só me resta lamentá-los e quando me tentam chamar à razão porque me acham errado, respondo do modo esclarecido que bem conheço; «… pois, foi um génio benfeitor do meu país o primeiro que, em lugar de matar os escravos, idealizou conservar-lhes a vida e aproveitar o seu labor!! Foi, e é, um maravilhoso avanço civilizacional o sistema político de Portugal…» Em que repartição pública posso deixar o meu agradecimento??
 
Mário Rui

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