segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Pedras rolantes


Ruínas? Talvez sejam só a lição de um tempo em que as coisas outrora vivas, e quantas vezes generosas, se deixaram arrastar inexoravelmente por entre as nuvens e marés de uma vida longamente acontecida. Algumas são também deuses com pés de barro, pacientes em aguardar o fim de uma distração que leve ao vestígio. Outras serão memórias de um belo poema findo justamente quando todas as pedras aparecem mortas na rua. Na barafunda de todos estes testemunhos, fica-me a alegria por lhes poder falar mas também a condolência pela dor que em si mesma a ruína reflecte. Mas tem história, tem factos, vanglórias e desgostos, e possui ainda alma esculpida a martelo e cinzel onde se demoram, parecendo ilusoriamente desfeitos, os restos marcantes ou de jóias, ou então, não importa, de refinadas tolices de uma existência. A das pedras, a do escultor e por fim do alguém que em tempos volvidos fez destes agora despojos, quiçá, uma estupenda significância. Vale sempre a pena fitar o que se desprende ou cai, espólio que se entranha mostrando a fisionomia do que foi. Em parando ante herança assim vista, vivo interiormente o êxito de toda esta exibição de momentos que devem ter feito as disputas, os alaridos, as conveniências ou as sãs convivências de gente de luas idas. Detenho-me, e olhando pensando, estou como que dizendo que não vivo só comigo mesmo e então este cortejo de ruínas logo vira respeito, muito respeito e saudades por ‘majestades’ extintas, mesmo que estas pedras que agora rolam pelo chão sejam memórias de fortunas ou fracassos. É história com essência! O resto, com o vagar de quem as percebe, às pedras e aos que as povoaram, há-de ser sempre um limpar de olhos evitando mostrar a lágrima que as recorda.



Mário Rui
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