quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Sabemos usar a palavra “sofrer”, mas saberemos descrever “sofrimento”?


Só eu sei da dificuldade que me assola a propósito de emitir opinião pensada, e se possível sensata, quanto ao acolhimento a dar aos que procuram afectos e melhor pátria onde possam viver em paz. Se é certo que de entre os que fogem de países em chamas muitos não buscarão mais do que paz, outros terão encontrado porta aberta por onde livremente possam passar ódios e revoltas interiores e desse modo as venham a pôr em prática, desassossegando os que estão deste lado europeu, sítio onde civilização ainda é, para nosso contentamento, designação dada a uma ortodoxia que mantém traços do seu propósito original, ou seja sítio onde humanidade não é sinónimo de coisa decaída. É muito bom, pese embora um outro rol de sacrifícios que também nós trilhamos, podermos gozar de uma Europa que todos os dias mostra um Sol que brilha de novo e uma Lua que sai todas as noites. Não sei se os que nos batem à porta alguma vez tiveram oportunidade de viver assim, não sei sequer se em qualquer dia tiveram ocasião de ficar alegres com o seu próprio Deus. Sei de coisa diversa e que se resume a uma solidariedade que, não podendo no meu caso oferecer cama, mesa e roupa lavada, ainda pugna, no mínimo, pela defesa e respeito de uma esperança que não desiste, mesmo em face do desespero, uma fidelidade que acredita no quase inacreditável tal é o tamanho de quem por ela luta. Abomino, a exemplo de tanta gente, os que não nutrindo gratidão alguma para com o semelhante assim se vão arrastando para cá apenas com o sentido de nos porem a ferro e fogo. Terroristas fanáticos que são o supérfluo, o excedente da sociedade, loucos aos quais oferecemos todas as nossas razões pelas quais somos cristãos e mesmo assim essa turba encontra nesta oferta todas as razões para nos dizerem que não o devemos ser. Pois que permaneçam por lá, pela terra que os viu parir e se possível em constante reflexão, não néscia, o que eu acho improvável mas talvez um dia aconteça, na companhia do seu profeta. Aos demais de que antes falei, pacíficos em fuga, acho que lhes é devida pela Europa da cultura e dos vínculos fraternos, uma oportunidade de enquadramento sólido e fiável e talvez assim fiquemos todos a ganhar. É a perspectiva desta vantagem que faz com que as partes se interessem pela discussão, disputa, compromisso e acordo de modo a que o resultado final garanta um estar social mais feliz para a humanidade. O que é doloroso é não alcançar um destino digno e simpático para todos os que o procuram e é bom que não esqueçamos os que querem mudar de lugar posto que se o fazem é porque já o perderam noutro sítio. Até connosco isso acontece e quem procura melhor bate-se pela felicidade possível. Ou não?


Mário Rui
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