domingo, 6 de novembro de 2016

A opressão americana que não me interessa

 

Que me desculpem os apaniguados do Halloween mas a verdade é que me acho um tipo orgulhoso da minha origem, se quiserem até da minha plebeidade, e por isso não compreendo essa coisa que descaracteriza e achincalha a minha rua e sobretudo a minha tradição. Prefiro as noites de festa vividas em trajes comuns às celebradas em vestes esfarrapadas. E se estas orações de agonia , trazidas à rua por via de uma espécie autopsial já de si meia cadavérica, podem fazer o gozo de uns tantos, então adeusinho à ressurreição estética das boas festas à portuguesa. Lá vamos ficando sem tradição que nos escude, nem originalidade que a credite. Não gosto nada desta solenização das trevas e de maxilas desdentadas que comem a minha terra e que me obrigam a ‘fugir-me'. Celebração de quê? Só se for lá nos “States”, por cá há certamente muito melhor do que isto. Poucos têm orgulho do seu lugar e muitos fazem por se dar à cópia. E a cereja no topo do bolo, calculem, li-a há instantes; há salas de cinema que assinalam este dia do tal Halloween com a projecção da “Laranja Mecânica”, do Kubrick. Tem tudo a ver, está visto. Ah, raio de vida! Lá tenho eu de ir às minhas recordações buscar o assunto das minhas páginas festivas para ver se apago epitáfios que me entristecem.


Mário Rui
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