domingo, 18 de junho de 2017

Eu sou Pedrógão!



De facto, em volta de toda esta tragédia fumega uma onda de cansaços, de fatalismos, de decepções e de medos de novas decepções. Há ainda a própria violência do monstro-fogo que mais uma vez leva o melhor da nossa história pátria, as pessoas que assim perdemos em miseráveis e penosos becos sem saída. É agora tempo de lhes entregar, desde logo, a nossa veneração e respeito por tão traiçoeira partida, mas é também chegado o tempo de perguntar se para os miseráveis e penosos becos sem saída que ceifam vidas humanas, ninguém tem foice que lhes corte as ervas daninhas. É que já há muitos anos que nos pesa a consciência de que os nossos fogos não sejam deste mundo. E são cada vez mais asfixiantes sobre o peito do País. Bem sei que a hora ainda não é de alegar críticas. De resto, do que presenciei, fica-me até a ideia de que os responsáveis nacionais estiveram à altura dos seus afazeres nestas circunstâncias, parecendo-me minimamente preparados para serem tudo quanto Portugal queira sempre e quando ocorrem catástrofes humanas. Dos bombeiros, gente cuja luta pela vida dos outros, lá no sítio onde a terra queima mais, tem sido um quadro excepcional de cultura cívica e moral, quantas e quantas vezes infelizmente sacrificado ao seu bem, só me merecem admiração. Quem lhes havia de querer tirar este respeito? Respeito tiro-o aos que, como esta madrugada vi na televisão, de fato domingueiro, dizendo-se presidente de uma qualquer associação nacional, pede palco, pede plateia, pede palmas, pede tudo através de artifícios de sintaxe que deem significação colorida a palavras chochas e sem qualquer acrescento que resolva os males de que padecemos. Até em vendo-se esquecido do abraço apertado, sentido, do nosso Presidente da República, que de novo esteve bem, não se desobrigou de o chamar para o cingir com os braços não fosse o País achá-lo um desatracado naquele cenário.
 
Mário Rui
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