quinta-feira, 1 de março de 2018

Crianças, o símbolo das vítimas da guerra na Síria


Eu sei, eu sei que a minha voz, a minha indignação, o meu nojo por tudo o que está a acontecer na Síria, não pesa na consciência dos assassinos que matam a esmo. ONU, governos, países, seitas, em meia dúzia de actos incisivos deixam os bons a sangrar; uns fazem-no por inépcia, outros por hipocrisia, ainda os há por indiferença chapada na cara, mais a sanha religiosa na inacabada massa encefálica dos radicais e, por fim, porque na alma de quaisquer carniceiros, se é que a têm os tais que tudo varrem à sua frente, lhes mora o diabo. Tão simples e tão funesto quanto isto. Tem tanta força a teia das incapacidades, da plasticidade mandante, do desinteresse popular, do ódio, que tal trama apenas caberá na história com ‘h’ pequenino porque se trata de lixo da história. Mas é lixo que mesmo a feder à seiva ferina que estropia e fuzila, deve ser lido. O presente, para este povo martirizado é uma época que já não julgávamos possível, o passado desapareceu e de futuro já nem alicerces existem. Os mortos, “as crianças meu Deus”, chamam por nós cada vez mais alto. Porque são ceifadas todas essas joviais alegrias? Disso só vislumbro uma causa e essa é a gesta escabrosa que infelizmente lhes tira a vida. Mas do que sei, sendo certeza para mim dada como adquirida, é que mesmo não ceifando almas, há uma miríade de personagens envolvidas que também pouco fazem para as proteger. Governantes, regimes e apaniguados, religiões insusceptíveis de baptismo e ainda muitos mediadores plásticos que acham que actuam pela só presença oratória. E, reconhecendo o quanto há de panaceia em todos esses actos e doutrinas, a guerra, o cheiro fétido da morte e sobretudo a igualdade social na Síria, há-de acabar por ser apenas o nome de uma constelação. A menos que o mundo dos alistados à chacina se levante num ímpeto unânime de justiça. Faço a minha parte; escrevo com os lábios murmurando apenas sussurros (ocos?) de sentimentos para com os milhares de humanos assassinados mas também com pesar pelos que sabendo, calam. E são muitos. E as crianças? Marejam-me os olhos porque andam a roubar-nos os tesouros. Não me apetece dizer mais.


Mário Rui
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