segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Moliceiros da ria de Aveiro vão passar a ser elétricos


Moliceiros da ria de Aveiro vão passar a ser elétricos (LER AQUI)
«Amanhã tudo será apenas uma saudade para os nossos filhos e uma lenda para os nossos bisnetos»
Sou dos que não gostam de ver a tradição de boa índole dissolvida ainda que para o efeito uns tantos me acenem com os impressionantes ventos do novo pensamento, sobretudo do turístico. Sou ainda dos que acreditam que o legado deixado por essa mesma tradição pode e deve servir justamente para a perpetuar, não para a desvirtuar. No entanto, é uma pena que alguns tenham sido informados de que podem usar os símbolos que lhes apetecer, desde que estes não tenham significado algum para eles, e, pior ainda, nos façam pensar que todas as partes do que fomos e somos começam a ficar separadas umas das outras tornando-se gélidas. Ora, se já lhe tiraram o vento, se lhe roubaram a vela, a vara e a sirga já se foram e o castelo da proa tem os dias contados, porquê insistir em chamá-lo de moliceiro? Chamem-lhe outra coisa qualquer, mas jamais moliceiro. Ponham-na na água, passeiem-se pelos lindíssimos canais urbanos da Ria, deliciem-se com as belezas de Aveiro, mas não promovam a morte acelerada a que está sujeito o nosso Príncipe. E quanto a essa fórmula empírica, a motor, porque agora anda tudo a motor, de captar turismo e desenvolvimento económico à custa da cópia fraudulenta do ex-libris da Ria, só me ocorre dizer que, mal por mal, é preferível que o genuíno moliceiro "vá antes a caminho do Museu do que direito a destroços deste naufrágio a que o tempo tirano de agora tudo imola". Salvar-se-á, pelo menos, a memória colectiva de uma região. E não é pouco. De outro modo, qualquer dia estão a dizer-nos que a massa doce de ovos-moles é, de tradição, feita com fígados de aves gordas e que o mundo não é redondo. Mas não incorramos no risco de nos danarmos – só porque algum Turismo é tolo! Vejam lá se ele conseguiu modificar a forma às gôndolas, pese embora todo o progresso, se feito de ternura e condescendência. Mas isso foi lá fora. Cá, o mais que algum progresso tem feito, é mudar o feitio a certos papagaios.


Mário Rui
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