domingo, 28 de outubro de 2018

Torna que volta e muda que vai e o tempo recua e a hora ofusca-se de novo

 
Torna que volta e muda que vai e o tempo recua e a hora ofusca-se de novo
Espera um minuto, ó tempo. Quando te mudam a hora, corres que voas em perseguição do escuro da noite quando o que eu queria era ainda o dia em claridade de nova aurora.
Calcada, vencida, esmagada a hora clara de ontem, obrigam-me a colocar a de hoje sob a mesma escuridão da noite cerrada.
E assim, até já na meia sombra das cinco da tarde se me aponta o ponto onde só vejo poente. Uma nuvem de sombrio, feia, grande, fala alto e fora de tempo ao dia roubado. Ralha-lhe.
- Ora, ora! Vem agora a treva contar-me medos à candeia bocejante da noite quando a claridade ainda não obscurece – diz o dia perplexo.
- Nem com esboços de sonhos me convences, inverno de breus - remata com dedicação de vontades.
Também eu sou pelo tempo luminoso a desoras, ó dia. Alisto-me nesses consideráveis haveres do teu remanescente brilho.
Escurecer cedo tem muitas lendas de dor. Só o fim da tarde mostra minutos mais sabidos, mais serenos, com todo aquele tic-tac de relógio da mais luzidia e cerimoniosa deferência.
As noites precoces, não melhoram as brumas das idades. Às vezes, nem os mistérios das juventudes. Faça-se dia. E quanto mais longo de cristal, melhor.

 
Mário Rui
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