sábado, 13 de abril de 2019

Futebol com mais razão e menos coração

 
Sem particulares gostos clubísticos que me liguem ao futebol da vizinha Espanha, vi hoje o dérbi Barcelona-Atlético de Madrid. Futebol sem absurdos, bem jogado, com inteligência nos pés – seguramente descida do cérebro – sem nebulosidades quer de jogadores, quer de árbitros. Límpido e iluminado pelos artistas que o disputaram, o jogo serviu-me, sobretudo, como certeza de que pouco contraditório, discussão estéril ou vozes biliosas se ouvirão na ressaca do dito. Ou seja, a história do mesmo será testemunha e não juiz, coisas às quais deve então corresponder a atitude do espectador ideal. Eis porque, salvo o devido respeito pelo futebol cá da terra, pobrezinho mas satisfeito, ainda estamos a anos-luz do que, nesses particulares, se passa em casa espanhola. E porquê? Tão-só porque a questão é esta; onde o nosso jogo da bola tropeça, outro não encontra obstáculo, dentro e fora do gramado. Venceu o Barça, mas isso pouco importa. Quando a luta findou, pelos vistos educada no espírito do não subjectivismo excessivo e parcial, amiúde cego, grosseiro, todos se cumprimentaram. E assim se manteve a excelente condição, o desenvolvimento e os necessários influxos dos fenómenos futebolísticos que em tudo contribuem para que cada jogo, em Espanha, talvez também em Inglaterra, seja uma verdadeira contribuição ao desporto-rei. Tal conjunto de condições, ainda que às vezes indubitavelmente difíceis, são indispensáveis a quem se arroga o direito, e bem, de se pronunciar sobre a alta qualidade do seu futebol. Por cá, tudo é diferente. Para pior! Continuamos crianças grandes e de ímpetos exageradamente espontâneos o que, acrescente-se, convém-nos refreá-los, para que não tenhamos medo de nós próprios. Dissipar a espessa cortina da ilusão que o esconde. É disso que precisa o futebol português.

 

Mário Rui
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