segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Às vezes, as eleições no meu País são uma coisa estranha

 

Às vezes, as eleições no meu País são uma coisa estranha. Às vezes, no meu País, os apelos ao voto são coisas grotescas, mesmo que impregnadas de bons propósitos, parecendo mais nuvens densas de gases hilariantes do que propriamente chamamento sério à causa pública. Às vezes, no meu País, os casos cómicos alternam com os menos risíveis, sendo que os primeiros se sobrepõem em número aos segundos. Às vezes, no meu País, seja pela fertilidade da foto ou pelo assombroso de figuras, mas sobretudo de frases achadas apelativas, há que manusear bem estas colecções de estampas políticas, repito, mesmo que vestidas de bons propósitos, de modo a podermos ter uma ideia precisa da sociedade do nosso tempo e, em particular, da que vai a votos, quer se trate dos seus costumeiros ridículos ou dos seus atinados apelos. Mas enfim, no meu País, a grande crónica do nosso quotidiano, para ser perfeita, teria de ser escrita por Aristóteles e ilustrada por um grande caricaturista, já que o que me parece exagero nada mais é do que a realidade de hoje. No meu País, podemos brincar com coisas sérias, o que não devemos é levar as coisas sérias ao carrocel da feira já que, mal a cabeça comece a pensar, a coisa pode tornar-se em vulcão pronto a vomitar magma incendiário. E lá porque a terra se chame Fornos ou Matança, não haverá por certo necessidade de as fazer acompanhar de suposto pasmo de expressionismo linguístico trazendo à memória coisas e actos que destruíram o mundo por tudo o que foram e representaram de horrendo. No meu País, esta até pode ser uma interpretação tonta dos meus cabelos brancos, mas a verdade é que é assim que eu vejo a atmosfera pesada destes cartazes. Quando, no meu entender, se quer brincar com certas coisas sérias, tentando fazer delas parolas figurinhas trágico-humorísticas, fico logo apetrechado com uma “arma” por causa dos “simpatiquíssimos” actores e autores que babam dos lábios coisas sem sentido, e tudo isto pelo simples pretexto de encher espaço, de fazer palpitante e de vender o género ao freguês rapidamente.


Mário Rui
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