sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

22 DE JANEIRO DE 1961 – A “OPERAÇÃO DULCINEIA”



O que se passou no dia 22 de Janeiro de há 62 anos? Um comando do DRIL (Directório Revolucionário Ibérico de Libertação), liderado por Henrique Galvão e por Jorge Sottomayor, grupo composto por portugueses e por galegos ex-combatentes da Guerra Civil, pôs em marcha a «Operação Dulcineia», tomando de assalto o paquete Santa Maria, ao largo do mar das Caraíbas e crismando-o de «Santa Liberdade». Henrique Galvão, um ex-apoiante do regime, envolveu-se numa conspiração em 1952, sendo preso e expulso das Forças Armadas. Em 1959, durante uma consulta médica no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, fugiu e refugiou-se na embaixada da Argentina, vindo depois a conseguir exílio político na Venezuela. Foi durante o exílio que começou a preparar o desvio do paquete de luxo “Santa Maria” cheio de passageiros. A operação que parecia megalómana, de difícil concretização, preparou-a de colaboração com Humberto Delgado, exilado no Brasil. O “Santa Maria”, com mais de 600 passageiros e 350 tripulantes a bordo, largara em 9 de Janeiro de La Guaira, Venezuela, numa viagem para Miami. Galvão embarcou clandestinamente em Curaçao, nas Antilhas Holandesas. A bordo já se encontravam os 20 elementos do DRIL, encarregados de executar a operação.  Cumprindo a ordem de operações elaborada por Galvão, a acção foi desencadeada na madrugada de 22 de Janeiro – a ponte de comando foi tomada. Um oficial ofereceu resistência e foi morto a tiro. Os restantes apressaram-se a render-se.O navio mudou de rumo e dirigiu-se a África. Galvão pretendia atingir a ilha de Fernando Pó, no golfo da Guiné, na época, colónia espanhola, partindo daí para atacar Luanda. Este seria o início de uma operação mais vasta destinada a derrubar as duas ditaduras peninsulares. No entanto o paquete, do qual nada se sabia, com natural apreensão dos familiares de passageiros e tripulantes, foi avistado por um cargueiro dinamarquês, que imediatamente avisou a guarda costeira americana. Começaram a chegar navios de guerra, inclusivamente uma fragata britânica. Não sendo possível prosseguir com o plano traçado, que exigia o factor surpresa, Galvão e Sottomayor decidiram dirigir-se ao Brasil e render-se às autoridades brasileiras. O novo presidente, Jânio Quadros (1917 —1992), um homem de esquerda, foi empossado em 31 de Janeiro de 1961, vindo a renunciar em 25 de Agosto desse mesmo ano (declarando que “forças terríveis” o obrigavam a esse acto). Rumaram então ao Recife onde pediram asilo político, o qual foi prontamente concedido. Desembarcaram no Rio de Janeiro os passageiros. O presidente Jânio Quadros recusou-se a entregar os revoltosos às autoridades portuguesas. O navio esteve em poder dos revolucionários até 2 de Fevereiro, dia em que uma força de fuzileiros da Marinha Brasileira assumiu o seu controlo.

O assalto ao Santa Maria foi o primeiro golpe de um ano que Salazar iria abominar, o ano de todos os prodígios. Os oposicionistas tiveram motivos para ter esperança na queda da (aparentemente inabalável) ditadura a qual, no entanto, ainda se aguentaria por mais treze anos.


Mário Rui
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