sábado, 22 de outubro de 2011

Queridos filhos


Queridos filhos, na altura vocês não podiam votar. Votei eu por ambos e pela vossa geração. Votei com a certeza que o prazo do ajustamento que nos foi imposto, desde há muitos anos, não permitia que fosse tudo feito sem grandes subidas de impostos. Pela primeira vez na minha vida vou ficar sem um mimo no natal para que vocês tenham o vosso. Mas tenho um sorriso na cara. Porque pela primeira vez um ministro afirmou o que o pai diz há muito: não poder ser despedido vale muito dinheiro. E isso é o primeiro passo para que o sacrifício do vosso pai se transforme num futuro melhor. Se Deus quiser, vão ser vocês e as vossas ideias o motor de crescimento do país e não um governante a pensar que fazendo um túnel submarino a ligar Lisboa ao Algarve irá relançar a economia. Não quero ter de explicar porque é que no GPS aparece uma auto-estrada colada à A1. Quero, antes, explicar-vos que a redução do tamanho do estado será o melhor estímulo para a próxima década. E, para finalizar, quero dizer-vos que, de uma forma muito perversa, temos a sorte de estar a sofrer agora uma mudança que vai afectar todo o planeta. E por isso vos digo: não deixem de acreditar no país, por muito que isso vos custe. Eu, e outros pais, haveremos de lutar para que a embriaguez estática dos homens que nos governaram e ainda governam, cesse e daí advenham muitas consolações de um quotidiano que virá mais radiante que todos estes últimos anos de sufoco.
Mário Rui

(in Blasfémias)

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