sexta-feira, 23 de março de 2012

Que fazer? Que esperar?


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O outro, o fascista, era mau, muito mau. Apesar de tudo, com muito ou pouco pão lá íamos vivendo o dia-a-dia. Mandava bater nos estudantes, nos adversários políticos, nos comunistas, enfim era um festim. Mas era selectivo…

Os de agora, os democratas, para além de nos terem roubado o nosso pão, o que os coloca no mesmo patamar do outro, o fascista, dão ordem à polícia para desancar sem piedade a quem se lhes atravesse no caminho. Sem piedade, sem dó e de modo indiscriminado. Não sei se os manifestantes da greve de ontem se portaram assim tão mal. Nem sequer sei se a carga policial, qual violência guerreira medieval, foi despoletada por um qualquer acto hostil por parte de quem grita por melhores condições de vida.

Esta mobilização popular, vinda do lado que veio, também sempre me leva a desconfiar dos seus propósitos políticos. Agora uma coisa eu sei. A inusitada selvajaria de ontem por parte do corpo policial é a característica comum a regimes tirânicos, opressores, curtos de vista. Também desconheço se existe, ou não, um manual, pelos vistos de maus costumes, por onde esta gente aprendeu a lidar com o descontentamento da plebe.

Se existe, então devia lá constar uma alínea, nem que fosse única, onde se pudesse ler e apreender:

1.- Nunca houve na nossa terra desgraça tão grande, mal-estar tão horrível! A ira, a crueldade, a necessidade de perseguir, tudo isto se dirige contra o possuidor de tais instintos; eis a origem da «má consciência». A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta, daí que, antes mesmo de saírem do quartel, a todos incumbe o dever de interiorizar a ideia de que se devem arrefecer os instintos animalescos de certos agentes policiais. Ou de certos agentes do Governo.

O que não pode acontecer são cenas de pancadaria gratuita contra quem reclama direitos que lhe assistem, porque deveres já os têm em demasia.

Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura. (Eça de Queirós)

Mário Rui

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