segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Outro dia, outra crise

















Estou em crer que, ao invés de alinhar com a praça pública e chamar-lhe de politicamente incompetente, embora o seja,  o que devo dizer é que Passos Coelho não joga com o baralho todo. Em primeiro lugar a gestão da comunicação, que deve ser sempre feita com toda a transparência, não existe. Como não existe também qualquer estratégia que ponha em sintonia verbal os vários actores do governo. De um modo geral, todos eles, negam hoje o que ontem disseram. Foi assim com o regresso aos mercados, “marcado” por Gaspar para 23 de Setembro de 2013, agora considerado “um processo” e não “um momento”. Mais tarde, e ainda que de outra natureza, agora de personalidade dissociada e de ruptura de contacto com o mundo exterior, veio a metáfora do “maratonista”, de novo de Vítor Gaspar, ao “carro em segunda mão”, de Passos Coelho, passando pelas “rações de combate” de Aguiar Branco. É um saco cheio de aleivosias que só pode corresponder a mentes estruturalmente desequilibradas. De resto, os discursos de Passos e Gaspar nas recentes  jornadas parlamentares dos partidos da coligação, mais pareceram dirigidos a ineptos. Confrangedor que assim seja. A última atoarda vinda do chefe do governo é a da “espécie de refundação” do memorando assinado com a troika. Ora aí está a terminologia certa para um futuro incerto. Já o era antes mas, a cada dia que passa, revela-se mais frágil. Já sabíamos, dito por cabeças que pensam e pelas que pagam a crise, eu e os outros como eu, que o dito memorando não era exequível. Mas este governo só agora deu por isso. É caso para perguntar se andaram a enganar-nos, mais uma vez, todo este tempo. Só agora dão a mão à palmatória sendo que, neste caso, nem o “mais vale tarde que nunca” já funciona. Não estou admirado com este modo de fazer política. Também foi assim com o prolongamento do prazo de ajustamento para mais um ano, sempre negado mas afinal  pedido pelo governo e negociado às escondidas do Parlamento e dos cidadãos. O mesmo se passou com o recente “regresso ao mercado de obrigações “, com o ministro Gaspar a recusar dizer aos deputados quem foram os compradores. Tudo nas “trevas”, tudo no “silêncio dos inocentes”. Assim não vale a pena votar!
Mas voltando então à “refundação”, convém dizer que o verbo refundar significa, tão-só, tornar mais fundo, profundar, afundar. Em política, pode ser visto e interpretado de dois modos diferentes. Por mim, julgo que a melhor maneira de levar à letra esta nova invenção governativa, não valerá mais que tomá-la como simples operação de cosmética, para extorquir mais dinheiro aos rendimentos do trabalho de uma classe média já de si empobrecida, miserável. Ao mesmo tempo, aproveita o governo para tentar pescar em ‘águas turvas’ um pequeno apoio do partido socialista. Aqui a coisa vai ter de ser mesmo funda, ou profunda, já que os socialistas não parecem nada interessados em dar a mão a alguém que os tem simplesmente enxotado. Realmente ninguém gosta de ser marginalizado, pior, enganado por embusteiros que depois vêm clamar solidariedade. Pois as pessoas acreditam na verdade naquilo que, visivelmente, é crido com decência e sobretudo transparência. Ora, nem uma nem outra  têm sido práticas deste governo. Depois admirem-se da falta de companheirismo.

Mário Rui

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