domingo, 30 de junho de 2013

Paixões





Havia o lado mais turbulento, “roqueiro”, que nos distraía consentidamente o pensamento. Depois fazíamos chegar os instantes de reflexão, pelo menos convinha simulá-la, pois que a fase romântica a tanto apelava e aquele minuto, essa passagem Zen, não nos podia escapar. Afinal era a afirmação da nossa colorida e quantas vezes difícil conquista. Pelo meio não esquecíamos de pedir ao amigo dos discos “A whiter shade of pale”, depois “Samba pa ti”, ainda Cat Stevens e por aí fora, até que as horas de limbo se eternizassem e, nessa fase, já tudo estava perfeitamente arrebatado com o delírio do que verdadeiramente toca corações e almas sensíveis. Era tão fácil encarnar a felicidade dos verdes anos e das meladas tardes de sons e imagens diversas que, não raras vezes, nos interrogávamos; «mas há guerras e ódios no mundo?» Então mas não podia ser só um quadro de pequeninas maravilhas? Claro que podia! E acontecia tantas vezes que só nos restava o suave sabor dos delicados tons que nos impregnavam o ego. Foi, foi assim, e bem sei que apesar de tudo há que continuar a lutar pelos mesmos desígnios. Por mim, e por se me ter entranhado na escola das felizes relações a doçura de amigas e amigos, não tenho de me queixar de nenhuma ingratidão por parte deles. Dançámos, sentimos , vivemos e sorvemos as mesmas músicas, os mesmos copos, as mesmas tardes e noites. Como estes espaços tocaram profundamente todos os nossos corpos próximos, a nossa própria ambição abrangeu todas as nossas paixões. Quase a uma só voz e sentir. É por isso que recordo lá no canto mais escondido de mim as canções, os nomes chegados, mas de particular modo as amizades acasteladas e que jamais quero perder. E que nenhum século censure o outro século e que nenhuma idade condene a outra idade!

Mário Rui

Sem comentários: