quinta-feira, 15 de agosto de 2013

WOODSTOCK 1969 - With a little help from my friends.





Pois bem, se hoje se comemora uma data que para muito mundo significou a invenção da melhoria dos laços humanos, não vejo motivo que me iniba de lembrá-la e, mais do que isso, de afirmar que este desiderato foi conseguido à custa de gente que sabia sentir. Numa altura em que os pensamentos não se podiam traduzir inteiramente por meio das palavras, eles conseguiram introduzir a subtileza e o rigor de uma geração descontente, cantando, desnudando-se, amando-se sem preconceitos e assim fazendo de tudo isto uma bandeira. «Maldita altivez», diziam os oponentes. Ainda levaram muito tempo a perceber que esta geração da libertação estava sempre profundamente ocupada. Nem quero saber se pelos melhores ou se pelos piores motivos. Estava ocupada a tratar de mudar mentes empedernidas e quando se está ocupado está-se sempre acima de qualquer embaraço. Embaraço foi coisa que, isso sim, tomou de assalto os mais renitentes, os que brincavam no alto da crista da onda. De tal modo que, não sabendo mais o que fazer, o rolo compressor dos “sixteen” acabou por moldar-lhes o corpo e o carácter, para melhor. Ainda bem, e digam lá o que quiserem os meus amigos, uma originalidade assim produzida, não sendo coisa fácil de fazer, teve o mérito de finalmente dar nome às coisas que ainda o não tinham, de nomear as agruras que toda a gente tinha debaixo de olho mas que poucos eram capazes de soletrar. O LSD passou a tomar conta da geração dos sessenta? Ah, pois foi. Então mas o que vem a ser a originalidade? E o descontentamento afoga-se em quê? Às vezes não é preferível achar que a superfície é a melhor das coisas? Descansem que não foram erros imperdoáveis. Em estado alucinogénico estavam outros que disparavam napalm, fósforo, queimavam carne e pele humanas como se de seara velha se tratasse. E fumavam, estes? Claro que fumavam, uma merda rasca que lhes fazia esquecer o fel que neles se tinha entranhado. Fumavam pois, para que os seus defeitos se mantivessem escondidos. Sobreviveram os psicadélicos e a sua cultura, sucumbiram os que inalavam poder e desapego ao próximo, coisas foleiras. Às tantas, um charro, uma guitarra, uma túnica, flores, muitas flores, corpos nús e som de união íntima, fizeram muito mais pelo mundo que as considerações dos que queriam aparecer como deuses. Os que depois coraram de vergonha de si próprios. Obrigado geração de sessenta. O vosso «desinteresse» foi sempre o amor que devotaram a um espaço com todos os seus corpos e seres. E só os grandes espíritos, os nítidos e vigorosos, são capazes desse grau de sentimento. Um universo! With a little help from my friends.

Mário Rui

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