domingo, 5 de janeiro de 2014

Portugal perde o Rei





















O REI!
 
Preencheu as minhas tardes radiofónicas aos domingos. Depois, a preto e branco, no ecrã da pequena caixa que mudou o mundo, trouxe-me alegrias mil que espalhava por essa Europa fora. Jogava futebol como nunca vi até hoje. Perfumado, enérgico, sério e especialmente encantatório. Em 1966 colocou o meu país num patamar até então desconhecido. Não só porque fazia magia com o esférico mas também porque disse ao resto do planeta que a civilização a que pertencia, a portuguesa, era o nível mais amplo de identificação a que pertenciam todos os de cá. Alguns quiseram fazer desta civilização do futebol, e dele próprio, um ser e estar que desaparecesse e ficasse enterrado nas areias do tempo. Em vão, felizmente. Sempre que as diferenças marcam pela positiva, é impossível penetrá-las de modo a apagá-las da memória dos amantes das boas causas, dos bons relacionamentos. E ele, o REI, sabia relacionar-se não só com a bola como também foi herói nessa troca e nesse desfrutar de doces delícias, mesmo nos seus momentos mais amargos e penosos. Forçou sempre uma relação, possibilitou sem invalidar e, pelo menos a mim, sempre me satisfez sem me causar aperto. Ganhava sempre! Julgo que todos nós e em particular os Benfiquistas fomos, e somos, gratos beneficiários de tantas recomendações que nos deu. Agora chegou a desagradável certeza e a irritante confusão condoída da partida. Gostávamos, isso sim, de as escorraçarmos de modo a que saíssem de cena. Se não o podemos fazer, pelo menos ainda podemos afirmar que jamais serão grandes o suficiente os nossos agradecimentos a esta ‘Pantera’ de maneira a que abarquem a generosa experiência humana que encarnou. Resta-nos o conforto espiritual por sabermos que permanecerá vivo na nossa memória colectiva e que ninguém conseguirá dissolver passado tão glorioso. OBRIGADO, EUSÉBIO! De pé e em silêncio, como deve ser!!
 
Mário Rui

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