segunda-feira, 9 de maio de 2016

Carta a destinatários conhecidos



A dificuldade que tenho em falar sobre matérias que não domino, é motivo suficiente para manter a boca fechada de modesta por orgulho. Daí que, a propósito da mais recente polémica sobre escolas privadas com contrato de associação e escola pública, tão-só venha à liça, não para dissecar da utilidade de umas sobre as outras, mas antes para dar mostras do quão pouco atreito me sinto relativamente ás bocas que se contradizem sobre o assunto. Falo em particular daquelas bocas que sempre se alimentaram de estudos, os próprios e seus descendentes, em colégios, externatos, internatos, irmandades, ordens – e nunca nada me moveu contra essas instituições e seus utentes – e hoje mesmo acham que o privado é coisa a blasfemar. E não me contem a velha história da falta de opções já que sei do que falo, pois à mão de semear conheço-as a todas elas, às ditas bocas - mas também às opções - já que viveram, comeram, brincaram comigo e, ao mesmo tempo, aprendiam línguas vivas, e às vezes até mortas, pagando caro, para afinal hoje revelarem instrução de pirata. Ontem sorviam educação privada, hoje cospem no prato onde comeram a sopa. Pior ainda, a primeira coisa que lhes falta é memória, e depois da memória falta-lhes quase tudo. Antes servia-lhes perfeitamente o fato e o facto, hoje os factos são vício e excrescência. Quando a ‘aprendizagem’ desta gente se enfeuda às realidades deste modo tão árido, tão contraditório, só me apetece dizer que há pessoas que julgam que fazer um grunhido é uma eloquência. No meu caso, estudei em escolas públicas, sempre, também podia ter sido em privadas, não me vinha mal nenhum por isso, agora o que seria era incapaz de vomitar raiva descontrolada sob a escola que me fez crescer, só para adaptar, ou melhor, esconder, a figura do actor, que não sou, à representação plástica do tempo de hoje. É por isso que ‘cada vez mais gosto menos’ de actores que se desdobram noutro corpo, pois o que realmente demonstram é ignorância manhosa e falta de princípios. Muitos, ainda por cima, são velhacos. Quanto à opção escola privada ou pública, quando entender o que está em causa, digo, se me apetecer. Boa tarde.
 
Mário Rui
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