sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Trajes com enorme dispêndio de sinceridade



Não é que desgoste de uma boa ganga rota em corpos reverdecidos e, de preferência, quando a vestir o generoso e belo feminino. Mesmo que a calça mostre desculpas descosidas, ou até esfarrapadas, a obra de arte que o esburacado mostra é sempre uma porção de sensibilidade visionada, e interpretá-la é historiar a existência exterior, infelizmente mais que a interior, de quem a subscreve. Mas gosto, pronto. Em todo o caso, neste particular da moda e porque acho que ela tem um lado verdadeiramente lunar, já tentei perceber as faces da lua mas, concedo, nunca consegui ir além do quarto-minguante. Certamente defeito meu já que até o Comité Olímpico Português acha que as peças do traje oficial "inspiram-se na tendência “patch”, com remendos de ganga nas calças...", "...com o objectivo de romper com os fardamentos clássicos usados habitualmente...".Tudo bem, até aqui, mas que diabo, com um sorriso em meia-lua de moda, também não teria ficado mal ao Comité vestir a nossa representação de cambiante que fosse ainda mais ao temperamento luso. É que, não obstante o remendado me gerar ‘pica’, fico a perguntar-me se esta maneira de apresentar as nossas caras-lindas não revelará a descrição da nossa realidade. Pobre e, com muita mágoa minha, uma só medalha. Neste caso, nem remendados lá chegámos o que prova que o alfaiate protagonista deve saber, desde o início, como vai acabar a sua aventura. Chamo-me Mário Rui e deixo beijinhos às meninas da ganga rota e abraços aos meninos com bacalhau retorcido no colarinho. E assim acabo este escrito pois crónica boa quer-se como a saia; quanto mais curta, melhor. E nada me move contra a calça, se bem calçada.


Mário Rui
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