domingo, 29 de outubro de 2017

A casa do senhor ministro foi assaltada!

 

A casa do senhor ministro foi assaltada. O país, a imprensa, está alerta! A polícia dá giz no taco. A mais extremada investigação está em curso, o caso faz barulho na terra que somos. Mas se isto fosse uma razão para falar, muita gente estaria calada neste país de palradores. Uma passadeira de comoções jornalísticas deixa atrás de si um largo traço de espuma condoída. O senhor ministro ficou sem o telemóvel e os escribas salpicam-lhe veneras por tão hediondo crime sofrido, duro. No norte e no centro prepara-se a proibição da pesca da espécie. E num entardecer de Outubro, que lá para 29 deste mês vai começar a ser o ‘prestígio’ de dias que escurecem mais cedo, uma comissão de sardinhas vai cumprimentar um pescador pelos seus trabalhos marítimos. Os bravos que se arranjem, que mudem de emprego, e os palradores do costume, descuidados num grande ar de alheamento pela sorte dos humildes, nem dão pelo momento de confusão dos que pescam sobrevivências, nem ouvem os gemidos dos que sofrem, nem assistem às convulsões dos que agonizam. A casa do senhor ministro foi assaltada e a atenção deles concentra-se nesta perturbação de lesa-pátria. Como se não fosse abominável atirar para o nada desempregos que alvorecem. A norte e no centro. A sul, só os telemóveis desaparecem. Caramba, tudo acontece ao norte e ao centro. E então, muito calmo, muito resignado, como quem aceita os fados, agora é o norte do pescador que vira poente, como outrora foi a agricultura que virou ocaso. Até das minhas dúvidas já duvido, mas há algo que sei; em jeito de quem dizia examinar as coisas com tino, a lavoura nacional tinha muito de admiração mas afinal não fazia nada por Portugal. Fizeram-lhe um enterro cheio de graças mas, sabe-se agora, num cumprimento desrespeitoso. Repetir-se-á a história? Da pesca pouco sei e das reservas do pescado ainda menos. Conheço bem é os ladrões que se aproveitam daquela espécie de sono hipnótico para aligeirarem os bolsos dos que pouco têm. Estou insatisfeito com recordações tristes do passado e com muitas apreensões pelo futuro. Que se lixem os telemóveis e ministros também há muitos!

 

Mário Rui
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