sábado, 1 de fevereiro de 2020

Fernando Assis Pacheco


Fernando Assis Pacheco

1 de Fevereiro de 1937, Coimbra / 30 de Novembro de 1995, Lisboa.

Não fosse a vida coisa fulgurante que nunca diz aonde vai cair, estaria hoje a comemorar 83 anos.

LÍRICA DE PARDILHÓ

Então acordo e sinto a meu lado
o esplendor tranquilo
da amada que respira
adormecida deitada sobre o flanco
vertendo a prata dum sorriso
nas ravinas da noite
esferas cantam a alegria
é um sítio de grama rociada
e passam horas
durante as que da rua
ouvindo vozes turvas
eu ficarei teimando
na claridade a todo o preço
de que me falam aves

Incluído em "A Musa Irregular", 1991.

ÚLTIMOS DESEJOS

Quero voar como os anjos
quero lavar os dentes com triflúor
quero o Belinho sem o Oliveira
quero cornear o duque de Kent

quero 250 de Platão bem passados
quero a destreza do okapi
quero ir ao Douro às vindimas
quero pagar com letrasset

quero vestir de linho (e do Veiga)
quero ser primeiro no Mundial
quero pudim francês com caramelo
quero ler um cabinda em verso branco

quero uma sequóia para o quarto
quero voar de Spitfire
quero esmurrar o Marcel Cerdan
quero a Maja Desnuda

quero-te de bicicleta
quero-te outra vez de bicicleta sobre as folhas
quero-te ouvir chegar de bicicleta
quero o som macio que fazia na mata a tua bicicleta

Fernando Assis Pacheco em "Variações em Sousa", 1987.
Incluído em "A Musa Irregular", 1991.




Mário Rui
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