quinta-feira, 20 de maio de 2021

Não é verdade, como se espalha fama, que “longe da vista,longe do coração”

Não é verdade, como se espalha fama, que “longe da vista,longe do coração”

Com eles estudei, estudei as coisas que se não aprendem na Escola e as outras cheias de novas inspirações cismando para a vida novos rumos. Mas tolerem-me o arrojo de afrontar por uma só vez a utilidade da Escola, quando ela tantas vezes apenas nos dá a ver o que os olhos não vislumbram, os ouvidos não escutam e o tacto não sente. Vivi anos com eles, eles que tinham um só nome, que era Amigo. E o coincidir dessa existência nascente, a amizade, tão magnificamente celebrada, era mais do que eu talvez mereceria. E se hoje aqui os trago é porque se me é dado o prazer de dizer ‘conversemos, amigos, de presença a presença’. Para o coração, pois, não há passado, nem futuro, nem ausência. Pretérito, porvir ou não estar presente, tudo lhe é actualidade, tudo existência. Assim, não me ides ouvir de longe, como a quem se sente arredado por centenas de céus que me separam de alguns destes Amigos, que o verdor dos anos não nos uniu; uniu sim e de que maneira. Por mais agrestes que tenham sido os contratempos da sorte de uns e as maldades de outros, raro nos causaram mal tamanho que não nos tenha feito ainda maior bem. De sorte que, em querendo falar um pouquinho convosco, já curtos se iam fazendo os dias, torno deste modo àquelas amadas lucubrações, as de que me lembro com saudade entranhável e por isso só cá vim lembrar relações amistosas. É que nestas saudades, vulgar é tê-las, raro é reflectir sobre elas.


Mário Rui
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