terça-feira, 5 de outubro de 2021

Covid-19 – Vamos supor e não supor

Suponha que hoje, ou amanhã, se quisesse, conseguia aliviar a quantidade de privações, de sentimentos, de emoções, de tristezas que nunca perceberam nada do que se passava consigo, que teve obrigatoriamente de silenciar, sob pena de agravar ainda mais o estado de saúde pública que o país atravessou.

Suponha ainda que conseguiria aperceber-se, hoje mesmo, da penitência que teve provavelmente de engolir em seco, quando o mais grave estado de saúde de Portugal, que a todos afectou, o obrigou a sepultar tanta gente.

Suponha ainda seriamente que teve de arcar com todas as intervenções políticas, e não só, mas também com as respostas que lhe davam, e com as respostas que lhe não deram.

Suponha agora que cada um de nós conseguiria trazer à superfície, e examinar claramente cada um desses episódios.

Agora suponha que ainda guarda uma réstia de esperança e lucidez suficiente para se aperceber que o pior já terá passado.

A pandemia ainda vigora, mas por momentos não suponha que a dita ainda nos trará mais e piores momentos.

A supor a esperança já de algum modo conseguida, o país abre-se a um novo amanhã. E se o juízo imperar na cabeça de cada um, talvez então sejamos capazes de nos conhecermos a nós próprios pela segunda vez, porque há um antes e um depois, e assim talvez consigamos uma primeira imagem clara do que fomos, do que somos e do que vamos ser.

Esperança e alguma satisfação quanto à porta que logo mais se reabrirá, é a coisa que mais nos anima. 

E nem vale a pena questioná-la já que numa guerra como a que vivemos - e ainda não terminou- nós só servimos como reféns!


Mário Rui
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