domingo, 3 de abril de 2022

O massacre continua mas agora parece, para alguns, irrelevante










Não, não é possível viver entre o ribombar das bombas e os pedaços de carne humana que voam pelos ares. Hoje, são estas as páginas despedaçadas de um livro já tantas vezes lido. Agora, que já todos despimos a nossa musa sagrada da paz, agora que vai nua e tímida, é amá-la como o consolo que foi. A resposta indefinida que esperamos para a tranquilidade entre povos logo se dissolve, tal a destreza dos senhores da guerra. Sim, convençam-se que é tempo de perceber, quanto é possível, em paz e sossego, que a carnificina ainda não está concluída. E o que mais me entristece, a sério, é como uma criança, cândida, pura, imaculada, ingénua e inofensiva, deixa reflectir pela transparência da sua face um clarão de agonias e desesperos do tempo incerto que vivemos. Porque se escondem os mentores desta chacina dos olhos que choram, ao verem assim desolada uma criança na consternação de uma angústia intraduzível por palavras humanas? Consternada e muda como uma estátua, o silêncio destas meninices incute uma sublimidade profética; parece guardar a impressão do selo mais tremendo do Apocalipse; a missão dos que matam sem que jamais se debrucem nas bordas das sepulturas que abriram. Isto é gente? Não! Isto é o terror planeado para utilizar o que está morto como prova de vitalidade de um monstro que está vivo, chamado Putin!


Mário Rui
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