quarta-feira, 11 de abril de 2018

Em baixo, os que deviam estar em cima, em cima, os que deviam estar em baixo!


Claro, claro que podemos mostrar muita alegria ou muita indignação por tudo o que o frívolo futebol possa encerrar, por tudo o que a má política possa produzir, por tudo o que a nossa pobre inteligência possa espargir. O problema é que afinal parece que regressámos aos tempos bíblicos, em que a inteligência e a sabedoria desciam, em línguas de fogo, sobre a cabeça resplandecente dos “escolhidos” dos deuses. Hoje, estamos como então. Nessas matérias, proliferam os sábios e até aspiram, não sendo isso proibido - mas deveria ser - ao louco sonho de quererem poisar nos astros. Os mais audazes até de uma pedra fazem uma estrela. Mas porra, não haverá por aí um destes sábios, só um, justo e honesto, baseado em insofismável e imperiosa necessidade social que nos ajude a lembrar o maldito xadrez em que vivem estes humanos? Não dá para opinar, gritar, escrever uma revolta contra a estupidez, os desmandos, as vilanias dos selvagens que matam com olímpico desdém? A nossa pobre inteligência não chega lá? Só vê péssimos futebóis e porcas políticas? Não dá para produzir assim um raciociniozinho, por pouco brilhante que seja, numa lógica e poder de convicção um tudo-nada superiores a isto? É que o que nos divide destas vítimas inocentes, é só uma razão de ordem intelectual e moral. E se a palavra foi dada aos racionais para lhes destapar o pensamento, pense-se então, não encubramos a desmedida avidez dos loucos. A Síria, como o futebol de que se fala a esmo, só tem cabeçudos jogadores que mais não veem do que as pedras do tabuleiro e as mil e uma combinações e imaginosos cálculos do jogo. Lançamo-nos, uns contra os outros, em ásperas, violentas, estéreis lutas de bola e politiquice como se do fim do mundo se tratasse. E a essas abrimos lealmente os braços, sem curar da sua procedência ou interesse. Sobre o genocídio na Síria, nem o seu certificado de registo criminal se nos aflorou, quanto mais falar dele, lembrá-lo sequer. Pobres vítimas! É provável, pois, que, a estas horas, já esteja em via de solução um "gravíssimo" problema de futebol. Quanto à Síria, ainda estamos a pensar se escrevemos, pensamos ou enfileiramos no silêncio. Eu acho que está a ganhar este último no assalto às posições dos selvagens que, assim, continuarão a matar descansados. Eles e a nossa cobarde quietude que não deixa que os denunciemos!
 

Mário Rui
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