segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Setembro: Mês Mundial da Doença de Alzheimer e de como eu a vi tão de perto


Para a doença em que se morre duas vezes, e a primeira é em vida – coisa estranha mas real - parece não haver ainda poente que a sossegue em definitivo. Doença degenerativa que leva a um galopante ‘ser’ em ‘não ser’, a par de outras, e que não mais significa do que baixar a ponte levadiça da vida, perder as sentinelas e começar a redigir o terrível manifesto da despedida. É, é assim e mais nada do que este assim. A fala faz-se tardia, a ideia enferruja-se e lá vem o tenebroso estado sem viveza mental, incapaz de exprimir emoções por conta própria. E por conta alheia, dolorosa igualmente, ainda que tentada a esperança, resfria toda e qualquer ideia de efusão de sucesso. Mesmo ao mais simples aceno de batuta, a orquestra que ouvíamos afinada, já só dá respostas destoadas. E a vida, que raio de vida, num acabar destes nunca dá qualquer penduricalho de mercê por bons serviços. É um deplorável episódio de fim de viagem. Não sou médico, de cientista seguramente também não faria reputação, tentei então a ciência no amparo ao drama. Não esqueci a sorte, acalentando a ideia de que para a cativar era preciso insistir. Palavra, acho indecente, o resultado não foi o esperado. É por isso que quero continuar a acreditar que essa ciência, os homens que a interpretam, não vão deixar cair os braços na luta contra a doença, contra as doenças. Que vão conseguir enxugar a neblina que cerra a descoberta das curas de modo a que, tanto quanto possível, se erradiquem os coleccionadores de dramas íntimos. Força ciência, porque em cada cura há gente que quer tornar a viver!


Mário Rui
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