segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O MUNDIAL onde a questão é de preço e o preço sufoca todas as consciências.

O MUNDIAL onde a questão é de preço e o preço sufoca todas as consciências.

Num país em que mais de 6700 trabalhadores migrantes morreram enquanto se preparava o Mundial de Futebol de 2022, estima-se que uma média de 12 trabalhadores a cada semana, ainda há gente grata pelo facto da competição se realizar em tal sítio. Acho mesmo que para os governantes do Catar, quem morre melhora muito a sua sorte. Os que sobreviveram tiveram quem os atormentasse, os mortos têm o esquecimento. Num país onde o futebol é uma verdadeira religião, onde se enchem estádios, onde a bola rola até nos conventos, nas igrejas – se é que existem -, nas catedrais e até nas mesquitas, outra coisa não seria de esperar. Um Mundial da modalidade, pois claro! Aquelas carnes cheias de mazelas e as almas cheias de crimes de lesa-humanidade, que construíram os estádios e demais infraestruturas, não contam para nada? De que serviu o seu sacrifício? Ir do nada para o nada? Há lá coisa mais torpe? Comer o pão que o diabo amassou, aguentar aquele vento abrasador, e tudo em nome de quê? Do dinheiro que tudo compra, ou das palavras que disfarçam a alma dos mandantes catarianos cuja veste lhes disfarça também o corpo, mas sobretudo o carácter? Depois há os outros, FFIFA’s, UEFA’s, FPF e afins, onde tudo é engano, tudo embuste, tudo dissimulação. E os países que se ajoelham no relvado contra qualquer distinção, exclusão, restrição, ou preferência em função da cor, raça, ascendência, origem nacional ou ética, pactuam com este Mundial, com este regime onde a vida só tem uma única “alegria”, a de morrer? Será que no Catar também vão ajoelhar-se no tapete verde? Não, não vão! E não vão porque com dinheiro a rodos compra-se um código inteiro de leis, de juizes, de fundamentos da moral, esquecem-se as injustiças que se amontoam, as chagas que se abrem na carne baptizada e, finalmente, faz-se por esquecer que em tais paragens até o respirar está sujeito ao sofrimento. Mas o dinheiro, o muito dinheiro, perdoa, redime, liberta e faz olvidar o despotismo. Para isso é necessário que todos os coniventes com este Mundial saibam insinuar-se, pois que a questão está em ter manha!


Mário Rui
___________________________ ____________________________

Sem comentários: