quarta-feira, 1 de julho de 2009

'Fostes' tu!

Caro leitor, estou de volta. Mas não se entusiasme já porque esta pode ser muito bem uma crónica que lhe desperte alguma repulsa. Espero, muito sinceramente, que não não o atinja a si, em particular.A verdade é que andam por aí umas pessoas que pensam que podem alterar a língua portuguesa quando bem lhes apetece. Se quiserem tirar o c à palavra Victor, eu não me importo. Ao meu tio é que já é capaz de lhe fazer alguma confusão, mas eu não tenho nada a ver com isso. Agora, dizer ‘fostes’ na 2ª pessoa do singular em vez de ‘foste’, é coisa com a qual eu não compactuo.Confesso que quando ouvi pela primeira vez tal barbaridade, julguei estar perante uma nova linha de modernidade linguística que nem todos, felizmente, podem acompanhar. A coisa seria menos grave, no entanto, se o ‘fostes’ fosse a única palavra sujeita a tamanha crueldade. Mas, ao que parece, isto acontece com quase todos os verbos na 2ª pessoa do singular do pretérito-perfeito.Mas o que me intrigou ainda mais foi o facto de eu saber que, de moderna, esta nova tendência tinha pouco. Ao contrário de outros, eu atrevo-me a classificá-la, não como moderna, mas como...vamos lá ver, estúpida. Que a língua portuguesa é difícil, estamos de acordo. Mas torná-la ainda mais difícil é que não me parece que seja a melhor solução.Há uns senhores que costumam dizer que é importante deixar um mundo melhor para as gerações futuras. Tem piada, porque ninguém fala na importância de deixar melhores gerações para o nosso mundo. Lá estou eu a exagerar. Nem sequer tem muita importância dizer ‘fostes’. Ou se calhar tem, mas esta foi forte demais.Já que estamos numa maratona da lingua portuguesa, há outra coisa com a qual eu não concordo. Tenha paciência, caro leitor. O novo acordo ortográfico causa-me alguma estranheza. De que me serviram os cem cadernos que ali tenho com ditados corrigidos se agora, assim de repente, todos eles estão cheios de erros? Mas entre escrever ‘fostes’ e escrever Vitor, ação ou batismo, venha o diabo e escolha.Agora, caro leitor, o que eu gostava que percebesse é que nem tudo são sermões. Por isso, aqui fica a lição de hoje: eu fui, tu FOSTE, ele foi, nós fomos, vós fostes, eles foram.

Rui André de Saramago e Sousa da SIlva Oliveira

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