quarta-feira, 3 de novembro de 2021

E a hora ofusca-se de novo

Torna que volta e muda que vai e o tempo recua e a hora ofusca-se de novo.

Espera um minuto, ó tempo. Quando te mudam a hora, corres que voas em perseguição do escuro da noite quando o que eu queria era ainda o dia em claridade de nova aurora.

Calcada, vencida, esmagada a hora clara de ontem, obrigam-me a colocar a de hoje sob a mesma escuridão da noite cerrada.

E assim, até já na meia sombra das cinco da tarde se me aponta o ponto onde só vejo poente.

Uma nuvem de sombrio, feia, grande, fala alto e fora de tempo ao dia roubado. Ralha-lhe.

- Ora, ora! Vem agora a treva contar-me medos à candeia bocejante da noite quando a claridade ainda não obscurece – diz o dia perplexo.

- Nem com esboços de sonhos me convences, inverno de breus - remata com dedicação de vontades.

Também eu sou pelo tempo luminoso a desoras, ó dia. Alisto-me nesses consideráveis haveres do teu remanescente brilho.

Escurecer cedo tem muitas lendas de dor. Só o fim da tarde luzidia mostra minutos mais sabidos, mais serenos, com todo aquele tic-tac de relógio da mais clara e cerimoniosa deferência.

As noites precoces, não melhoram as brumas das idades. Às vezes, nem os mistérios das juventudes.

Faça-se dia! E quanto mais longo de cristal, melhor!


Mário Rui
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