quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Portugal dos pequeninos

Tirando partido dos mais recentes desenvolvimentos sobre o caso Face Oculta, gostava de deixar claro, para os cidadãos menos atentos, que nunca antes o país tinha assistido a tão exactas e assertivas declarações de um interveniente de um qualquer processo judicial de tamanho mediatismo. É que, na verdade, quando Armando Vara afirmou publicamente que meio país se iria rir do facto de ele ter recebido uma caixa de robalos de Manuel Godinho, ele estava totalmente certo. Haja alguém capaz de nos fazer rir neste país. Boa Armando!
Mas mais do que achar piada a uma coisa que, com justeza, tem mesmo imensa piada, o país sabe, e parece claro para todos, que a chave para desvendar o mistério Face Oculta se encontra nos robalos fresquinhos que Armando Vara recebeu. Significa isto, caríssimas autoridades deste país, que é altura de deixar de lado as escutas telefónicas, as testemunhas, os dossiers e emitir um mandado de captura urgente para deter esses animais…os peixes, naturalmente.
Ainda que meio país, incluindo eu, prefira rir-se dos contornos ridículos que os processos judiciais, tradicionalmente e sem surpresa, alcançam no nosso país, é importante dizer que isto, mais do que qualquer outra coisa, mancha a imagem, por si só já manchada, do Portugal pequenino e dos pequeninos que nos foi entregue e a que há muito nos habituámos. E como qualquer processo mediático que assolou o nosso país nos últimos anos, temo que também este se transforme num outro caso Casa Pia.
Sem soluções à vista, pelo menos aparentemente, este e tantos outros casos que há anos se arrastam na Justiça portuguesa, colocam, inevitavelmente, em dúvida a credibilidade de quem nos governa. Nas palavras de Mário Crespo, “os intocáveis” senhores a quem ninguém ousa tocar, acabam por passar continuamente impunes a um sistema também ele corrupto, apodrecido e vulnerável.
É tempo de mudar o rumo da justiça e da Justiça portuguesa. Isso mesmo, da justiça no sentido moral de cada um de nós e da Justiça no sentido legal de poder judicial. Deixem-se de brincadeiras porque nós, portugueses ou parte deles, fartamo-nos depressa!

Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

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