domingo, 9 de abril de 2023

A cassete

E funcionava mesmo assim. Duas rodinhas onde a fita se enrolava e onde nós nos enrolávamos também. Longe vão os tempos em que tudo nos encantava com estas “fitas”. Eis o que eu pergunto a mim mesmo, hoje espavorido com tanta quantidade de tecnologia que infusa nos meus ouvidos; - o sonho durará para sempre? O das fitinhas, estou certo que sim. Acho que é hereditário e vitalício e, portanto, essas cassetes e as músicas jungidas a mim levaram no meu coração, à despedida, a palavra portuguesa “Saudade”. Era o tempo do cola e cola quando elas se partiam e eu era o apóstolo das colagens. Creio mesmo, agora, que esta época foi só minha, ainda que dizê-lo possa parecer coisa egocêntrica, e que muito gostaria de a ter escrito porque vivê-la, eu vivi. Vivi até terminar o grande volume onde se agitavam vidas meninas, vidas sadias, vidas gloriosas, aquele império que é a alegria da juventude. E se a tivesse escrito, ela seria ainda hoje o meu livro de cabeceira. Foi-se a cassete mas continuo sedento como nunca de ouvir coisa de que muito goste e de uma explicação total: anseio por uma profecia garantida – a música! E seria bom fazer aqui uma justa homenagem ao homem que, teria eu aí cinco ou seis anos, me deu o primeiro instinto para aquilo que a experiência mais tarde consolidou em mim. Estranho ser ele a fazê-lo quando afinal era um entusiástico e estudioso do folclore português. Chamava-se Pedro Homem de Melo. Pois é, a vida tem destas coisas mas a música tem mais uma; é uma ponte para o sempre. A outro propósito, já Richard Bach o tinha dito.


Mário Rui
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