domingo, 9 de abril de 2023

Turquia – O caos




Dir-se-ia que todos estes ‘passeantes’ heróicos sob a avalanche destruidora de um abanão continuado mantêm, apesar da sua dor inultrapassável, uma benévola cumplicidade com o inimigo invisível que minou os alicerces e as estruturas de sítios outrora resplandecentes. Ainda que na sua fuga levem o terror e o sofrimento colados à pele e os olhos cheios de incerteza, ficam de pé, em atitude de alucinados, como se de náufragos se tratassem apanhados pelo salvamento. E é em momentos destes que não reconhecemos sinais de um mundo humano e fraternal. Há por aí uns gritos fictícios de ajuda, irrompendo de gargantas mercenárias, que devem ressoar aos ouvidos das vítimas como um apelo dum universo estranho, como se o estado de uma longínqua tragédia lhe solicitasse toda a atenção. Também os há mais solidários, sem dúvida, e com a promessa duma alegria por entre o caótico ambiente de dor. O que é lamentável é que entre os primeiros e os segundos, haja uma diferença abissal. Uns prometem e falham, outros fomentam milagres. E este ultraje evidente dos que falham estabelece um corte cerce na conversa. O quanto eu gostaria de lhes resmungar injúrias de alto quilate literário. (9 de Fevereiro 2023)

 

Mário Rui
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