domingo, 9 de abril de 2023

Francisco merecia mais

O Papa Francisco, pessoa que muito admiro, merecia mais. À imagem e semelhança dele próprio, merecia um palco mais barato, mais singelo, mais consentâneo com os mais pisados, de todos os escarnecidos, dos que amaram e foram desamados, dos que não tiveram ontem nem terão amanhã, dos que se afogam como um baraço, daqueles que têm noites sem fim em que a dor espanca o sono e de que se acorda sem se ter dormido. Mas o nacional-parolismo decidiu-se pelo contrário. Desenharam-lhe, e vão construir, uma agonia pavorosa em que nos vem um sentimento indescritível de ser lama, ser pedra, qualquer coisa enfim que não tenha dores, nem tenha lágrimas para Francisco. Já topei no meu caminho e no meu país vezes demais com a “Vaidade das vaidades onde tudo é vaidade”. Ou seja, penso então em quanta grandeza não há na obstinada negação desses ventres que não fecundam nunca, dessas árvores que nunca dão flor, que se arrojam a maltratar Francisco, Quem são eles? São os faustos de harém e as misérias de enfermaria! O Papa merecia mais! Afinal quantas humildades não tem o sacerdócio de Francisco no seu seio? Quantas tragédias para sofrer, quantas singelas bênçãos para dar, quantas aflições a acudir? Meu Deus, quanto inútil é a diplomacia bacoca e falsa dos que inventaram o luxo que a ninguém serve e muito menos a alguém que toda a vida se afadigou, chorou, mas sempre na singeleza de uma existência muita digna votada por inteiro aos seus semelhantes? (10 de Fevereiro de 2023)


Mário Rui
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